A questão é como
tudo tem passado tão rápido, os dias, as horas os meses. Já
estamos quase no fim do ano, e estou a alguns meses dos meus 20 anos,
me sinto velha em pensar em me casar e encarar tudo o que vem pela
frente, mas, ao mesmo tempo, ainda tenho 19.
Cinco e meia da
manhã, despertador, calça, café, chaves, acaricio o cachorro, e
estou mais uma vez no mesmo ônibus, com as mesmas pessoas, a
felicidade me acaricia se consigo chegar a tempo de pegar o ônibus
menos lotado, caso contrário, fila, empurrão, cheiro estranho, com
licença, vou descer, um segundo para respirar, não, começa o
expediente, vão-se ai algumas horas, livros para guardar, gente para
atender, precisa de ajuda?, posso usar o computador?, ufa! Meio dia,
esquenta, engole, escova os dentes, e mais algumas horas da mesma
coisa, até que enfim eu saio, o dia parece té ficar mais colorido,
mas logo à frente, mais um ônibus, e outro, ando um pouquinho, pego
as chaves, finalmente, casa, minha mãe jogada no sofá, como eu
queria fazer igual, posso?, não, tem que estudar, história da
América, colonização, fundamentos de que?, tardes perdidas com um
livro ou uma videoaula chata, para chegar na prova e tirar um cinco,
poxa, tá que é meu número favorito mas você tinha que aparecer
agora?!
Me sinto uma velha,
e ainda nem fiz 20, e nem sei se faço uma festa ou apenas encontro
alguns amigos mais próximos em algum barzinho.
É tudo tão
sufocante, eu lembro de como essa época era importante para mim, me
deixava feliz, tudo parecia estar mais leve, talvez pelas férias
escolares, ou os feriados em família, não sei, só sei que tudo
isso acabou, ou se reduziu bastante com minha nova vida, acho que
minha Eu de 15 não achou que seria assim, mas sei que ela sentiria
orgulho de quem eu me tornei e tudo o que conquistei, é claro que
ela não sabia a sorte que tinha por não se preocupar com tudo isso,
deve ser por isso que naquela época passava tanto tempo pensando em
amor, e hoje em dia, só me preocupo em lembrar de comprar meu
remédio todo mês e não deixar minhas plantas morrerem de sede.
Não vou reclamar,
eu amo a minha vida, toda essa agitação e sempre ter algo para
fazer nos fins de semana, acho que se eu tivesse tempo de mais para
descansar a mente ficaria louca na minha cama escrevendo um livro
sobre o quanto eu odeio meus ex-namorados, que era basicamente o que
eu fazia aos 15. Bom, é bom me ver assim, toda cheia de planos e tão
apaixonada por eles, por todos eles, espero que continue assim, e
espero mesmo não acabar como a minha mãe, jogada todas as tardes no
mesmo sofá pensando em como a vida poderia ter sido diferente sem
nenhuma vontade de mudar a realidade que tanto odeia. Tenho orgulho
da minha bagunça, e espero que seja assim, enquanto eu aguentar.